Confissão de Fé

“A ROCHA”

Igreja Acção Bíblica

Introdução

O desejo da Acção Bíblica é o de viver e promover uma fé firmemente alicerçada na Palavra de Deus. Esta Confissão de Fé formula os principais pontos estruturantes e vitais da fé cristã com base em fundamentos bíblicos. Este desejo conduziu a redação desta Confissão de Fé e fica ainda mais evidente na versão com as referências bíblicas.

A atualização deste texto de referência tornou-se necessária na Acção Bíblica, em particular devido às muitas questões éticas e sociais que nos últimos anos passaram a atacar a fé cristã em muitas áreas. O nosso mundo está a mudar rapidamente e no cristianismo encontramos várias correntes que reagem de forma diferente a essas mudanças. Tal como no tempo do fundador da Acção Bíblica, é importante voltar a exprimir os elementos fundamentais da fé cristã, aos quais queremos permanecer ligados. Esclarecemos desta forma a mundivisão e os contornos da nossa denominação, de forma a permitir um diálogo respeitoso, mas sem confusão, com quem acredita de forma diferente.

Fazer discípulos para anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, perto e longe, remete-nos às raízes da Acção Bíblica, onde a vocação missionária se nutria de um estudo rigoroso das Sagradas Escrituras. Além de nossas raízes denominacionais, o compromisso com uma Confissão de Fé exigente manterá a Acção Bíblica ligada ao cristianismo fiel histórico. Seguindo a longa linhagem de crentes, que através dos séculos nos conecta ao Evangelho ensinado pelos Apóstolos de Jesus Cristo, a Ação Bíblica é também herdeira da Reforma e dos Avivamentos Evangélicos. Os textos de referência, mencionados no apêndice dos diversos artigos, expressam essa ancoragem no passado e os vínculos com os movimentos evangélicos contemporâneos, aos quais nos sentimos próximos.

Tal como o antigo programa de ensino da Acção Bíblica, “Credo”, esta Confissão de Fé será utilmente usada, a fim de promover a proclamação do Evangelho, em todas as circunstâncias e em todos os níveis. Ela orientará a membresia das nossas Igrejas locais e permitirá o treinamento de líderes. Exigente no seu conteúdo, pode ser adaptada ao público na sua forma, a fim de levar os crentes a uma vida de piedade fiel à Palavra de Deus.

Por meio desta Confissão de Fé, desejamos fortalecer os laços que unem as Igrejas na Acção Bíblica e alimentar o zelo pelo anúncio do Evangelho, que marcou as nossas origens.

O objetivo final de toda a criatura é glorificar a Deus, e com esta Confissão queremos nos encaixar fiel e alegremente nesse propósito.

ARTIGO 1

O DEUS TRIUNO

Deus é o único Deus vivo e verdadeiro. Ele é espírito, infinito, absoluto, perfeito e excede os limites do entendimento humano.

Uno e indivisível, existe eternamente em três pessoas distintas e iguais: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, cada um totalmente divino. Essas três pessoas amam-se e glorificam-se umas às outras, desde toda a eternidade, numa comunhão perfeita.

Deus existe por Si mesmo, é satisfeito em Si mesmo e nada pode impedir a concretização da Sua vontade. Deus é Todo-Poderoso, exerce soberania absoluta e reina sobre tudo o que existe, desde toda a eternidade. Tudo acontece de acordo com o conselho de sua vontade.

Deus é perfeito em amor, em santidade e em todos os seus outros atributos, ele glorifica-se e revela a sua glória em tudo o que é e faz. Todos os seres viventes devem adorar e glorificar Deus somente.

1.1. Deus o Pai

Sobre o seu ser:

O Pai é Deus desde toda a eternidade. Ele concebe todas as coisas e comunica eternamente o ser e a vida ao Filho.

Sobre a sua obra:

Tudo o que o Pai quer e faz, Ele o faz por meio do Filho e aplica-o pelo Espírito Santo. Quando a obra da redenção estiver plenamente concluída, toda a criação lhe será de novo perfeitamente submissa.

1.2. Deus o Filho

Sobre o seu ser:

O Filho é Deus desde toda a eternidade. O seu relacionamento com o Pai é uma filiação eterna.

Sobre a sua obra:

Através do Filho, o Verbo de Deus, tudo foi criado e nele tudo subsiste. Ele é o Redentor da criação e o único mediador entre Deus e os homens.

De acordo com o que havia sido anunciado por Deus nas Sagradas Escrituras, Jesus Cristo é o Filho de Deus encarnado. Concebido pelo Espírito Santo, ele nasceu de uma virgem, chamada Maria, e viveu como um verdadeiro homem, mas sem pecado. Jesus Cristo é ao mesmo tempo plenamente homem e plenamente Deus, é a revelação suprema de Deus aos homens.

Por meio da sua vida perfeita e do seu ensino verdadeiro, Jesus Cristo obedeceu em tudo à vontade do Pai, até à morte na cruz, para reconciliar todas as coisas com Deus.

Ressuscitou corporalmente no terceiro dia e apareceu a muitas testemunhas. Ele subiu ao céu e sentou-se à direita do Pai. Jesus reina e intercede pelo seu povo.

Jesus Cristo retornará de maneira gloriosa e pessoal, para reunir os seus, para julgar os vivos e os mortos, para reinar para sempre.

1.3. Deus o Espírito Santo

Sobre o seu ser:

O Espírito Santo é Deus desde toda a eternidade. Ele procede do Pai e do Filho.

Sobre a sua obra:

O Espírito Santo inspirou as Escrituras, e ajuda os crentes a entenderem o seu significado.

O Espírito Santo sustentou o ministério terreno de Cristo e guiou os apóstolos na sua missão fundadora. De acordo com a vontade do Pai, o Espírito não fala de si mesmo, mas de Jesus Cristo.

O Espírito Santo aplica a salvação aos crentes, une-os a Cristo e equipa-os conforme a sua vontade, para que vivam para a glória de Deus.

O Espírito foi enviado pelo Pai e pelo Filho, para assegurar a presença de Cristo na Igreja e para lhe dar o poder para a concretização do mandato missionário.


Textos de referência que subscrevemos e que são úteis a quem queira aprofundar estas noções:

Credo de Niceno-Constantinopolitano (325 d.C., 381d.C.), sobre a doutrina da Trindade e sobre os fundamentos da fé;

Definição de Calcedónia (451 d.C.), sobre a doutrina da dupla natureza de Cristo;

Símbolo de Atanásio (final do século IV – início do século V), fórmula detalhada sobre a doutrina da Trindade e a obra de Cristo;

ARTIGO 2

AS ESCRITURAS

A Escritura, como Palavra de Deus, é o instrumento da Revelação especial. Ela é necessária e suficiente para conhecer Deus, o seu plano eterno (criação, queda, redenção, restauração) e a forma de adorá-lo corretamente.

Esta Revelação é única e clara, não precisa de ser complementada por nenhuma outra. As Escrituras são compostas dos 66 livros do cânon bíblico definitivamente fechado, o qual o Espírito Santo divinamente inspirou aos seus autores humanos. Ela não contém erros até ao mais ínfimo detalhe dos manuscritos originais. Ao longo da história, Deus preservou a Sua Palavra para que ela possa ainda ser digna de fé hoje e compreendida pela Sua igreja. Tudo o que ela afirma cumpre-se de forma perfeita.

A Lei, revelada nas Escrituras em vários lugares e em diferentes graus, reflete o caráter de Deus. Ela revela o pecado do homem e mostra a necessidade de se recorrer a Cristo. Embora ela já não condene o crente, a Lei moral é inteiramente boa e continua a ser um guia seguro para a sua vida.

A conclusão da redação das Escrituras, no tempo dos Apóstolos, virou uma página na história da salvação e conclui a revelação especial. Do final do primeiro século até ao retorno de Cristo, a Palavra de Deus não pode ser modificada (nem se adicionando, nem se retirando algo). Completa e definitiva, ela é totalmente suficiente para a vida da Igreja e dos crentes, e nada pode ser comparado a ela.

Deus revelou quem é e qual o seu objetivo redentor por meio de milagres e ações na história. Observamos a sua presença pontual na história da salvação. Assim, esses sinais não são nem habituais, nem normativos para a vida do povo de Deus. A presença de milagres é ainda possível, segundo a livre soberania de Deus, porém todos os “sinais e milagres” não são uma garantia de autenticidade divina. Estes devem ser examinados com prudência à luz da Palavra de Deus.

A Escritura é, assim, a única regra de fé e vida. Cada um dos seus textos deve ser interpretado de acordo com o todo e deve ser compreendido em humildade, com a ajuda do Espírito Santo.


Texto de Referência que subscrevemos e que é útil a quem queira aprofundar estas noções:

– as Três Declarações de Chicago (1978, 1982, 1986), sobre o modo de considerar a Bíblia e sobre os princípios a serem respeitados para a sua interpretação.

ARTIGO 3

A CRIAÇÃO

Geral:

O Deus triúno, na sua livre vontade, criou tudo o que existe, visível e invisível, inteiramente bom. Antes de começar a criar, nada existia além dele mesmo. Através da sua Palavra, Deus criou tudo para a sua glória.

Deus criou os anjos, espíritos imortais, santos e poderosos, para o louvarem, o adorarem e lhe obedecerem.

Por meio da sua providência e de acordo com os seus planos, ele preserva e governa tudo.

Toda a criação revela as perfeições invisíveis, o eterno poder e a divindade do Criador, pelo que tudo o que existe é conclamado a adorá-lo.

Homem:

Deus criou o Homem, justo e santo, para conhecê-lo, glorificá-lo e encontrar a sua alegria nele.

Deus criou Adão e Eva, o primeiro casal histórico e ancestral único da humanidade. O homem e a mulher são o ápice da criação, foram criados à imagem e semelhança de Deus, que é o criador de cada ser humano.

Deus encarregou o homem e a mulher de cuidarem de toda a Terra e governá-la. O homem e a mulher foram criados iguais em valor e dignidade. São diferentes em suas características e complementam-se nas suas funções.

Na Criação, Deus instituiu o casamento entre um homem e uma mulher. Essa aliança normativa celebrada diante de Deus e dos homens é um reflexo do relacionamento entre Jesus Cristo e a Igreja.


Textos de referência que subscrevemos e que são úteis a quem queira aprofundar estas noções:

Declaração de Danvers (1988), sobre masculinidade e feminilidade;

Declaração de Nashville (2017), sobre género e sexualidade.

ARTIGO 4

A QUEDA

Acontecimento

Na comunhão que os unia a Deus, Adão e Eva eram capazes de obedecer ou desobedecer a Deus. Tentados pelo diabo, eles deliberadamente desobedeceram ao comerem do fruto proibido. Este evento histórico não fugiu da plena soberania de Deus.

Consequências

Assim, a comunhão entre Deus e o Homem foi quebrada. Por causa da desobediência de Adão, a morte e a corrupção entraram no mundo e todo o universo foi afetado. A culpa de Adão foi imputada a toda a humanidade, da qual ele era o representante. Desde então, cada ser humano nasce pecador. Ele é completamente caído em seu ser, pelo que, tudo o que pensa, diz e faz está marcado pela corrupção. Assim, o homem continua a ter a capacidade moral de fazer as suas escolhas, mas a sua natureza caída o empurra inexoravelmente em direção ao pecado. O homem morreu espiritualmente, é escravo do pecado e culpado diante da justiça de Deus.

Todas as suas faculdades estão afetadas pelo pecado e, no seu estado de depravação, não quer nem pode agradar a Deus. Por sua Graça, Deus limita os efeitos do pecado na sua criação e continua a derramar os seus muitos benefícios sobre o homem. Assim, o homem ainda é capaz de ações virtuosas em favor do seu próximo.

Ainda que desfigurada pelo pecado, a imagem e semelhança de Deus subsiste em cada indivíduo. Assim, ninguém se deve sobrevalorizar a partir de uma alegada superioridade intrínseca sobre outros seres humanos.

ARTIGO 5

A SALVAÇÃO

A fim de realizar o seu projeto eterno, depois da queda, o Deus triúno desencadeia o seu plano de redenção, decretada pelo Pai, realizada pelo Filho e aplicada pelo Espírito.

A obra de Cristo

Em seu amor e justiça, Deus escolheu Cristo como Salvador antes da criação do mundo. Tornando-se plenamente homem, Cristo identificou-se com os homens e pode representá-los diante de Deus.

De acordo com as promessas feitas a Adão e a Abraão, e progressivamente reveladas no Antigo Testamento, Jesus Cristo realiza e inaugura a aliança de graça entre Deus e o Seu povo.

Deus designou-o como o único mediador pelo qual os homens podem ser salvos. Cristo recebeu a condenação de Deus no lugar de todos os pecadores que nele creem. A sua morte é eficaz porque ele é plenamente Deus e a sua ressurreição proclama de uma vez por todas que Ele é perfeitamente justo. Por meio da cruz, Cristo triunfa sobre os poderes espirituais rebeldes para com Deus, sobre o pecado e sobre a morte.

Os que creem em Cristo

Por meio da sua união com Jesus Cristo, Deus revela a plenitude da Sua salvação aos crentes. Deus perdoa todos os seus pecados, por meio da fé em Cristo. Libertos da escravidão do pecado e do diabo, eles entram no reino de Deus.  Cristo torna Deus propício aos crentes ao ter satisfeito a justiça de Deus e ao ter aplacado a sua ira justa para com eles. Os crentes podem agora viver em comunhão com o seu Criador.

O ministério terreno de Cristo inaugurou “os últimos dias”. Os cristãos vivem no “já” da obra realizada por Cristo e no “ainda não” da consumação final. Os cristãos têm um corpo caído e vivem num mundo caído. Eles receberam bênçãos de acordo com as promessas de Deus, cuja plena realização eles esperam aquando do retorno de Cristo. Por meio desta radiosa perspetiva, que alimenta a sua esperança vigilante, os crentes consagram-se a Deus em todos os aspetos da sua vida. São zelosos no seu serviço pela Igreja e na proclamação urgente do Evangelho. Os cristãos anseiam, assim, com fervor o retorno do seu Senhor.

A morte física marca o fim da vida terrena neste mundo caído. Trata-se de um evento triste para quem fica. Enquanto se está na espera da ressurreição, a alma dos cristãos está com Cristo num estado de felicidade, e assim, os cristãos podem viver o seu luto ao mesmo tempo que experimentam paz.

Redenção

Origem da Salvação: De acordo com a sua boa vontade e com o mistério da sua sabedoria, Deus elegeu, antes da fundação do mundo, aqueles que salva em Cristo Jesus.

Chamada: Pela proclamação do Evangelho, Deus chama todos os homens a se arrependerem. Eles são responsáveis diante de Deus pelas suas escolhas e pela resposta que dão ao Evangelho.

Em sua Graça e pela ação do seu Espírito, o Pai atrai pecadores a Cristo.

Regeneração:  Pelo seu grande amor, Deus faz nascer de novo aqueles que salva. Assim, eles tornam-se novas criaturas para a vida eterna que está em Jesus Cristo.

Conversão: Após a ação do Espírito Santo, o pecador arrepende-se do seu pecado e coloca a sua fé somente em Jesus Cristo, a quem ele confessa como Salvador e Senhor. Ele compromete-se então a viver para Deus.

Justificação: Através da união do crente com Cristo e através da fé, Deus atribui-lhe a justiça de Cristo. O crente não é mais tratado como um pecador diante de Deus, mas declarado justo e livre de toda a condenação.

Adoção: Sendo justificados, os crentes estão em paz e reconciliados com Deus, que os adota como filhos, dando-lhes o seu Espírito, tornando-os co-herdeiros com Cristo, membros da família de Deus.

Santificação: Pela sua união com Cristo, os crentes foram santificados por Deus, que habita neles por meio do seu Espírito. Ele separa-os para o adorarem e se conformarem a Ele, de acordo com o modelo dado em Jesus Cristo. Consagrados a Deus, os seus filhos são chamados a trabalhar pela sua santidade, numa dependência contínua do Espírito Santo, desde o novo nascimento até à morte física, pois Deus é santo.

Por amor a Cristo, os crentes voluntariamente obedecem aos Seus mandamentos, que são resumidos em amar a Deus e ao próximo. O Espírito Santo dá-lhes a vontade e a capacidade de obedecer a fim de crescerem em santidade, produzindo fruto segundo Deus, principalmente graças à leitura e ensino das Escrituras, à oração, às ordenanças (batismo e ceia), à comunhão fraterna e ao serviço.

Os cristãos testemunham da sua conversão através de uma vida transformada. Embora declarados justos por Deus, os santos são chamados a lutar contra o pecado, que habita neles, em toda a sua vida terrena. São chamados a glorificar a Deus em todas as circunstâncias, tanto no seu sofrimento e provações, como na abundância.

Perseverança dos Santos: Selados pelo Espírito Santo, os verdadeiros cristãos podem experimentar, legitimamente, a certeza da salvação. Graças a Deus, eles perseveram na fé. Aqueles que a abandonam definitivamente testemunham que nunca conheceram verdadeiramente Jesus Cristo. Nada nem ninguém pode separar os crentes do seu Salvador.

Glorificação: No retorno de Jesus Cristo, os cristãos ressuscitarão com um corpo glorioso, para viverem eternamente na presença de Deus. Assim, eles desfrutarão plenamente de todos os benefícios da sua salvação em Cristo.


Texto de referência que subscrevemos e que é útil a quem queira aprofundar estas noções:

5 Solas, fórmula dos Reformadores (século XVI), que reafirma os fundamentos da Salvação.

ARTIGO 6

A IGREJA

Igreja Universal

A Igreja universal, na sua totalidade, é a coluna e o baluarte da verdade, é composta de todos os redimidos, os quais formam o povo de Deus. É o corpo de Cristo, composto de crentes unidos, pelo Espírito Santo, a Cristo, que é a cabeça. A Igreja é a Noiva de Cristo, e Ele é o seu líder. Habitada pelo Espírito Santo, ela é o templo de Deus, do qual Cristo é a pedra angular. É ele quem a edifica.

A Igreja é una, santa, universal e fiel à sã doutrina transmitida, de uma vez por todas, pelos Apóstolos, nas Escrituras.

A missão

A Igreja deve assegurar-se de proclamar todo o Evangelho de Cristo a todos os povos do mundo inteiro, a fim de fazer novos discípulos e plantar novas Igrejas locais. Estas encorajam de forma intencional o testemunho dos crentes no seu contexto e o envio de missionários até aos confins da Terra.

Igreja local

A Igreja local é a manifestação visível e temporal da Igreja universal, que adora e glorifica Deus. Os seus membros reúnem-se para o culto centrado em Cristo, na comunhão fraternal. A Igreja visa a edificação mútua. Ela dá testemunho em palavras e ações e serve no seu seio e fora. Ela ensina e vive a Palavra de Deus em todas as ocasiões.

Existem igrejas verdadeiras e falsas, mas não há igreja local que seja perfeita.

O culto

A Igreja local presta culto comunitário a Deus, com alegria e reverência, principalmente através de: pregação das Escrituras, a oração, as ordenanças, e os cânticos. Este culto acontece com ordem, de forma inteligível e com decência, submetendo-se às indicações das Escrituras.

As ordenanças

O batismo e a ceia do Senhor são as duas únicas ordenanças instituídas por Cristo. Sinais da sua aliança, contribuem para nutrir a fé dos seus discípulos reunidos em Igreja.

O batismo pratica-se por imersão, salvo por excepções. Deve decorrer de uma conversão genuína e de uma confissão consciente de fé em Jesus Cristo. O batismo é um ato único de obediência, pelo qual os crentes manifestam que estão mortos para o pecado e vivos para Cristo. É o sinal da remissão dos pecados do crente em Cristo e uma consagração da sua vida a Deus. Exprime a sua resolução de viver para Deus e materializa a sua filiação à Igreja.

A Ceia é a refeição da aliança por meio da qual os crentes partilham o pão e o vinho, símbolos do corpo e do sangue de Jesus que foi vertido pelos seus pecados. Por meio da refeição do Senhor, os crentes experimentam a comunhão com Cristo e com a sua Igreja, que é o seu corpo. Assim comemoram e proclamam regularmente a morte de Cristo, enquanto aguardam a sua volta.

A autoridade

O governo da igreja local é assegurado pelo conselho colegial de pastores que a dirigem e a servem.

Os pastores são irmãos chamados por Cristo e reconhecidos pela Igreja local, de acordo com os critérios estabelecidos nas Escrituras.

Os pastores submetem-se à Escritura e exercem a sua autoridade ensinando-a. Com base nisso, eles são responsáveis pela disciplina da igreja local, com o apoio dos membros.

Cada membro submete-se à autoridade colegial do conselho de pastores, com base nas Escrituras, expostas nesta Confissão de Fé.

Membros

Todo o cristão é chamado a ser um membro fiel de uma igreja local. Batizado, servindo a Igreja de maneira geral e, mais particularmente, usando os dons recebidos do Espírito. O membro manifesta a sua filiação à Igreja local por meio da sua adesão oficial. Ele participa regularmente na vida da Igreja e provê generosamente as necessidades espirituais e materiais da Igreja local, livremente de acordo com os seus meios.

Os membros, testemunhas de Cristo, devem amar-se uns aos outros, cultivar a unidade e repreender com doçura os que se afastam. Todos os membros são chamados a servir; alguns o farão assumindo uma responsabilidade de diácono ou de pastor.


Texto de referência que subscrevemos e útil a quem quiser aprofundar estas noções:

– a Declaração de Lausanne (1974), na sua convocação a evangelizar, bem como à necessidade e urgência de apresentar Cristo, o único Salvador, a cada ser humano e em todas as culturas.

ARTIGO 7

OS CRISTÃOS E O MUNDO

Os cristãos estão no mundo, mas não são do mundo. Os cristãos devem amar o próximo como a si mesmos. Eles são enviados por Cristo ao mundo para testemunhar da graça de Deus aos seus contemporâneos e viver uma vida de santidade no meio da presente era corrompida.

Através da sua fidelidade, os cristãos são uma bênção para o mundo ao seu redor. Eles devem ter o cuidado de promover o Evangelho em todas as esferas da sua vida pessoal e social. Eles valorizam uma gestão sábia do ambiente, de acordo com o mandato cultural.

Os cristãos têm a responsabilidade de entender e avaliar a cultura circundante de acordo com os princípios das Escrituras, valorizando os efeitos da graça comum e confrontando a idolatria, bem como os falsos deuses deste mundo.

Em relação às autoridades humanas

Embora sejam estrangeiros e peregrinos na terra, os cristãos reconhecem a sua responsabilidade política e social e submetem-se às autoridades civis. Eles devem obedecer-lhes desde que as autoridades não os obriguem a desobedecer a Deus.

Ética da vida e da morte

Todo o ser humano é portador da imagem de Deus e, por isso, possui uma dignidade intrínseca. Os homens são, portanto, responsáveis perante Deus pela preservação e proteção de toda a vida humana, que começa na concepção e termina com a morte física.

Na situação da pessoa que está a morrer, é necessário encorajar os cuidados paliativos (que aliviam o sofrimento), distinguindo-os do encarniçamento terapêutico (que atropela a dignidade da pessoa), e da eutanásia e do suicídio assistido (que afirma a vontade humana de pôr fim à vida).

Ética do casamento e da sexualidade

De acordo com o pensamento bíblico, o casamento é uma aliança vitalícia entre um homem e uma mulher. Este compromisso de viver uma vida comum deve ser voluntário e público, perante Deus e sancionado pelas autoridades encarregadas da ordem social. Deus deu a sexualidade como uma componente boa e necessária, a qual só pode ter lugar no contexto do casamento.

Um cristão deve apenas considerar o casamento com outro cristão. É normal associar a igreja local ao processo de casamento entre dois cristãos. Os costumes culturais não devem impedir um projeto de casamento.

Os cônjuges vivem o casamento doando-se e servindo-se mutuamente. A relação entre Cristo e a sua Igreja é o modelo relacional do casamento. O marido, à imagem de Cristo, exerce autoridade caracterizada por um amor sacrificial. A esposa, tal como a Igreja, submete-se voluntariamente ao marido.

Deus chama algumas pessoas ao celibato, pelo que a felicidade de uma pessoa não passa necessariamente pelo casamento. Nem o casamento nem o celibato conferem qualquer valor intrínseco à pessoa humana.

Ética da família

Deus chama-nos a viver o amor fraternal entre cristãos, primeiramente no contexto do casamento e da família, a célula elementar das sociedades humanas.

Os filhos naturais ou adotados não são um direito nem um dever, mas são uma bênção que Deus concede ao casal. Todos os pais são os principais responsáveis pela educação dos seus filhos. Os pais cristãos são ainda responsáveis de ensinar a Bíblia aos seus filhos e educá-los de acordo com os princípios bíblicos. Eles devem prover o necessário para o pleno desenvolvimento dos seus filhos.

Os filhos são chamados a honrarem os seus pais até à velhice.

Todos os procedimentos para se ter um filho ou para regular a sua chegada, seja por intervenção médica ou social (adoção), não podem ser considerados só por serem tecnicamente ou juridicamente possíveis. Por exemplo, a barriga de aluguer deve ser proibida; no entanto, certas formas de procriação medicamente assistida podem ser consideradas de acordo com os princípios bíblicos.

Fé e liberdade individual

O cristão submete-se alegremente a Cristo, que é o Senhor em todas as áreas da sua vida (pessoal, académica, profissional, lúdica, financeira, etc.). O cristão evita as armadilhas do relativismo e do legalismo. Além dos claros ensinamentos das Escrituras, todo o cristão administra a sua própria liberdade, na sua alma e consciência, tendo a perspectiva de que ele deve: prestar contas a Deus, buscar o bem dos seus irmãos e do seu próximo, e não prejudicar o seu testemunho.

Deus cuida dos cristãos, dando-lhes todas as coisas para o seu bem. Eles são chamados a viver contentes e a não amar o mundo, nomeadamente o prazer, o conforto e o dinheiro, os quais se podem tornar ídolos. Os cristãos expressam a sua gratidão a Deus sendo generosos com o próximo.

Os cristãos devem examinar todas as suas escolhas de vida, gerir o seu tempo e o seus recursos materiais e financeiros à luz das Escrituras. Tudo isto deve também ser considerado segundo a perspetiva de participar na vida da Igreja local.

Os cristãos buscam de acordo com a piedade, um estilo de vida saudável que considere todas as necessidades e aspectos da sua existência: espirituais, relacionais, emocionais, cognitivos e físicos.

Combate espiritual

Além da luta contra o pecado, os cristãos enfrentam a luta contra os espíritos da maldade (o diabo e os demónios). Estes são anjos criados bons por Deus que se rebelaram contra Deus e são caídos de forma irreversível, ainda que permaneçam sujeitos à soberania de Deus. Eles foram derrotados por Cristo na cruz e aguardam o julgamento final, seguido pelo castigo eterno.

O diabo trabalha para desviar o mundo de Deus. Ele pode tentar ou mesmo influenciar o cristão usando o pecado deste, mas não pode possuí-lo. Assim, a luta espiritual dos crentes deve ser direcionada contra o seu próprio pecado, por meio da santificação e submissão a Cristo e não na busca de um confronto direto com os demónios. Submetidos a Deus e equipados com todas as suas armas, os cristãos, pessoalmente e em Igreja, resistem aos espíritos da maldade, por meio da oração, da fé, de uma vida consagrada, e da proclamação do Evangelho de Cristo.


Textos de referência que subscrevemos e úteis a quem quiser aprofundar estas noções:

– precisamente sobre estes temas, os artigos da 3ª Declaração de Chicago (1986) que evocam: o caráter sagrada da vida humana (art. V), o casamento, a família e a sexualidade (art. VI a VIII), o Estado (art. IX), a lei e a justiça (art. X), a guerra (art. XI), os direitos humanos (art. XII), a economia (art. XIII), o trabalho e o lazer (art. XIV), a riqueza e a pobreza (art. XV), o meio ambiente (art. XVI).

ARTIGO 8

A MORTE E O ESTADO FINAL

A morte física, o fim da presente vida terrena, diz respeito a todos os seres humanos, exceto àqueles que estarão vivos no retorno de Cristo.

Após a morte, o corpo e a alma são separados até ao dia da ressurreição. O corpo é destruído, enquanto a alma sobrevive, seja num estado de sofrimento longe de Deus (os perdidos), ou num estado de adoração bem-aventurada, na presença de Cristo (os redimidos). Após a morte, nada permite que a pessoa passe de um estado a outro.

Retorno de Cristo e ressurreição

Num dia que só Deus sabe, Cristo reunirá o seu povo a Ele. Cristo virá a este mundo, pessoalmente, no seu corpo glorioso e de maneira visível a todos, como juiz dos vivos e dos mortos, para estabelecer o seu reinado visível na Terra.

Todos os homens serão ressuscitados com os seus corpos dotados de qualidades diferentes.

Julgamento final e condenação eterna

Cristo manifestará a glória de Deus ao julgar os humanos de todos os tempos e os anjos, conforme as suas obras. Os perdidos e os anjos caídos sofrerão o castigo eterno e consciente num lugar de tormento preparado por Deus.

Nova Criação

Deus completará a sua obra de redenção através da reconciliação de todas as coisas por meio da Cruz de Cristo. Nos novos céus e na nova terra, o pecado, o sofrimento e a morte não existirão mais.

Os remidos, em perfeição, viverão para sempre com corpos incorruptíveis, na gloriosa presença de Deus, sob o reinado de Cristo. Deus será totalmente glorificado por todos. Os redimidos o conhecerão perfeitamente e encontrarão n’Ele uma satisfação superabundante.

“Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Pois, quem conheceu a mente do Senhor? Quem se tornou seu conselheiro? Quem primeiro lhe deu alguma coisa, para que lhe seja recompensado? Porque todas as coisas são dele, por ele e para ele. A ele seja a glória eternamente! Amém.”

Romanos 11.33-36

Acção Bíblica Faro - Igreja de teologia reformada
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